"Eu conheço um país que tem uma das mais baixas taxas de mortalidade de recém-nascidos do mundo, melhor que a média da União Europeia.
Eu conheço um país onde tem sede uma empresa que é líder mundial de tecnologia de transformadores.
Mas onde outra é líder mundial na produção de feltros para chapéus.
Eu conheço um país que tem uma empresa que inventa jogos para telemóveis e os vende para mais de meia centena de mercados.
E que tem também outra empresa que concebeu um sistema através do qual você pode escolher, pelo seu telemóvel, a sala de cinema onde quer ir, o filme que quer ver e a cadeira onde se quer sentar.
Eu conheço um país que inventou um sistema biométrico de pagamentos nas bombas de gasolina e uma bilha de gás muito leve que já ganhou vários prémios internacionais.
E que tem um dos melhores sistemas de Multibanco a nível mundial, onde se fazem operações que não é possível fazer na Alemanha, Inglaterra ou Estados Unidos.
Que fez mesmo uma revolução no sistema financeiro e tem as melhores agências bancárias da Europa (três bancos nos cinco primeiros).
Eu conheço um país que está avançadíssimo na investigação da produção de energia através das ondas do mar.
E que tem uma empresa que analisa o ADN de plantas e animais e envia os resultados para os clientes de toda a Europa por via informática.
Eu conheço um país que tem um conjunto de empresas que desenvolveram sistemas de gestão inovadores de clientes e de stocks, dirigidos a pequenas e médias empresas.
Eu conheço um país que conta com várias empresas a trabalhar para a NASA ou para outros clientes internacionais com o mesmo grau de exigência.
Ou que desenvolveu um sistema muito cómodo de passar nas portagens das auto-estradas.
Ou que vai lançar um medicamento anti-epiléptico no mercado mundial.
Ou que é líder mundial na produção de rolhas de cortiça.
Ou que produz um vinho que "bateu" em duas provas vários dos melhores vinhos espanhóis. E que conta já com um núcleo de várias empresas a trabalhar para a Agência Espacial Europeia. Ou que inventou e desenvolveu o melhor sistema mundial de pagamentos de cartões pré-pagos para telemóveis.
E que está a construir ou já construiu um conjunto de projectos hoteleiros de excelente qualidade um pouco por todo o mundo.
O leitor, possivelmente, não reconhece neste País aquele em que vive - Portugal. Mas é verdade. Tudo o que leu acima foi feito por empresas fundadas por portugueses, desenvolvidas por portugueses, dirigidas por portugueses, com sede em Portugal, que funcionam com técnicos e trabalhadores portugueses.
Chamam-se, por ordem, Efacec, Fepsa, Ydreams, Mobycomp, GALP, SIBS, BPI, BCP, Totta, BES, CGD, Stab Vida, Altitude Software, Primavera Software, Critical Software, Out Systems, WeDo, Brisa, Bial, Grupo Amorim, Quinta do Monte d'Oiro, Activespace Technologies, Deimos Engenharia, Lusospace, Skysoft, Space Services.
E, obviamente, Portugal Telecom Inovação.
Mas também dos grupos Pestana, Vila Galé, Porto Bay, BES Turismo e Amorim Turismo. E depois há ainda grandes empresas multinacionais instaladas no País, mas dirigidas por portugueses, trabalhando com técnicos portugueses, que há anos e anos obtêm grande sucesso junto das casas mãe, como a Siemens Portugal, Bosch, Vulcano, Alcatel, BP Portugal, McDonalds (que desenvolveu em Portugal um sistema em tempo real que permite saber quantas refeições e de que tipo são vendidas em cada estabelecimento da cadeia norte-americana).
É este o País em que também vivemos.
É este o País de sucesso que convive com o País estatisticamente sempre na cauda da Europa, sempre com péssimos índices na educação, e com problemas na saúde, no ambiente, etc.
Mas nós só falamos do País que está mal.
Daquele que não acompanhou o progresso.
Do que se atrasou em relação à média europeia.
Está na altura de olharmos para o que de muito bom temos feito.
De nos orgulharmos disso. De mostrarmos ao mundo os nossos sucessos - e não invariavelmente o que não corre bem, acompanhado por uma fotografia de uma velhinha vestida de preto, puxando pela arreata um burro que, por sua vez, puxa uma carroça cheia de palha.
E ao mostrarmos ao mundo os nossos sucessos, não só futebolísticos, colocamo-nos também na situação de levar muitos outros portugueses a tentarem replicar o que de bom se tem feito. Porque, na verdade, se os maus exemplos são imitados, porque não hão-de os bons serem também seguidos?"
Nicolau Santos, Director - adjunto do Jornal Expresso
in Revista Exportar 2006
1 comentário:
«A crise» em Portugal em documentário de 45 minutos na TVE
A crise em Portugal foi o tema de um documentário de 45 minutos transmitido na noite de sexta-feira no programa «En Portada», um dos principais espaços de grande reportagem do canal 2 da televisão espanhola, TVE.
A descrição foi a de um país que «é o mais desigual da Europa, onde 20% da população roça a pobreza» e no qual a população vive «com a auto-estima mais baixa da UE a 25», num clima de «depressão e desânimo».
Percorrendo Portugal de Norte a Sul e registando declarações de membros do governo, especialistas, académicos, autarcas e cidadãos anónimos o programa aludiu a alguns dos aspectos mais preocupantes da realidade social e económica portuguesa.
Temas como a desertificação, o isolamento do interior, o fecho de serviços de saúde e educativos devido ao despovoamento de várias regiões, a burocracia, os atrasos nas obras e as perdas de empregos na indústria, nomeadamente têxtil e calçado, marcaram a viagem da equipa de reportagem espanhola.
O documentário visitou, entre outras, povoações como Escalhão, próximo do Vale do Côa, onde um pastor dizia que «até as pedras levam», numa referência à venda de pedras para responder ao «boom» da construção em Salamanca.
A aldeia de Rabal, Bragança, a cidade de Mirandela, em Trás-os-Montes, as lotas de Peniche e de Lagos, o interior litoral e o Algarve, foram algumas das regiões percorridas.
Ao longo dos 45 minutos o documentário descreveu a situação que vivem povoações isoladas «onde o ciclo vicioso» do despovoamento levou os habitantes a sentirem-se isolados e esquecidos pelos centros de poder.
«A economia expandiu-se, com a adesão à Europa, mas não se modernizou», referia o documentário, notando, por exemplo, a falta de modernização de alguma s fábricas têxteis ou as dificuldades da frota de pesca portuguesa que trás para terra apenas 25% do que o país consome.
O documentário incluiu referências aos 60 milhões de euros acima do previsto que custaram os estádios do Euro 2004, aos atrasos na extensão do Metro e no Túnel do Marquês.
Com declarações de Victor Constâncio, sobre o défice das contas públicas, do ministro da Economia Manuel Pinho, sobre os objectivos do governo de «ajustar as contas públicas e estimular empresas privadas», o documentário procurou apresentar um retrato da situação económica em Portugal.
Referiu, por exemplo, que «no meio da crise o sector da banca registou um aumento de 30% nos lucros» e que, «numa contradição evidente» Portugal tem «um dos espaços comerciais maiores da Europa».
«Apesar de tudo o consumo teima em não baixar», comentou o narrador.
Aludindo à governação de José Sócrates, o documentário referiu que o PM «não tem contestação no governo», que as críticas da oposição «são débeis» e que, ao fim do mandato «o sucesso ou o falhanço da agenda de governação dependerá exclusivamente do chefe do governo».
Apesar da crise, o documentário dá conta dos esforços em várias áreas para ultrapassar a situação, modernizar a industria, requalificar zonas turística s no Algarve e reforçar o investimento em investigação e tecnologia.
Como exemplo cita o sucesso de algumas fábricas de têxtil e calçado, o modelo adoptado na AutoEuropa e os avanços no sector da cortiça, visitando ainda o centro de formação de Famalicão.
«É um país sereno, educado, por vezes lento, que luta à sua maneira para sair da crise. Das várias crises», conclui o documentário.
e melhor uma no cravo e outra na ferradura, o que e nacional e bom mas sem euforias, nunca tivemos coragem para identificar o que esta mal e encara-lo de frente para mudar para melhor
gus
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